Nos EUA, 'web em tempo real' seduz o investidor

18-08-2009 10:25
Robert D. Hof, BusinessWeek, do Vale do Silício (Califórnia) - Valor Econômico
 
Internet: Crescem as apostas em companhias criadas ao redor do Twitter

John Borthwick fala baixo, mas não consegue esconder seu entusiasmo. Um dos fundadores e executivo-chefe da Betaworks, uma incubadora de Nova York concentrada em negócios de internet, Borthwick é um investidor do Twitter, o fenômeno do "microblogging" - que permite às pessoas trocar mensagens curtas, as chamadas "tweets". A Betaworks também está criando ou investindo em pelo menos 21 outras companhias que exploram a "internet em tempo real", ou "real-time web". Esse é o termo que descreve o número explosivo das atividades de relacionamentos on-line em tempo real, dos tweets e das atualizações de status no Facebook ao compartilhamento de notícias, links de internet e vídeos em uma variedade de outros sites. "É uma nova camada de inovação que está se abrindo na internet", diz ele.

É também um novo campo de sonhos para empreendedores e investidores. Em meio aos restos reduzidos da web 2.0, com a propaganda on-line e o comércio eletrônico passando por uma fase de vacas magras, eles estão vendo a internet em tempo real como a próxima grande sensação da rede - talvez até mesmo a fonte do próximo Google. Esse setor emergente é tão novo, e suas fronteiras tão confusas, que é difícil saber quanto dinheiro está sendo investido em um número de empresas também não quantificado. Mas muitas dezenas de companhias iniciantes estão se firmando e atraindo o interesse dos investidores.

"As pessoas estão percebendo que esta é uma grande oportunidade", afirma o investidor Ron Conway, apoiador de primeira instância do Google e do Twitter. Apontando uma série de companhias iniciantes com nomes tolos - TweetDeck, Aardvark, Topsy Labs -, que ele acredita que poderão se transformar em grandes sucessos, Conway diz que pretende investir em algo entre 40 e 50 companhias da internet em tempo real, de varejistas fornecendo descontos instantâneos no Twitter a marqueteiros de olho em anúncios para consumidores, baseados nos produtos ou serviços m nos tweets.

O frenesi de investimentos em qualquer coisa que está em tempo real começou no início do ano, quando o Twitter promoveu sua quarta rodada de captação de recursos. O investimento, de US$ 35 milhões, deu à companhia um valor de mercado de US$ 250 milhões. Durante uma conferência de dois dias realizada pelo Twitter em maio, um palestrante perguntou à plateia quantas pessoas achavam que num prazo de cinco a dez anos o Twitter estaria valendo mais que o Facebook, hoje avaliado em US$ 6,5 bilhões. A maioria das pessoas levantou a mão.

Será que as pessoas estão se excedendo? Pode ser. O Twitter apenas começou a explorar meios de gerar receita e suas perspectivas não estão claras. O Facebook, com sua mistura de rede de relacionamentos e atividade em tempo real, vem lutando para transformar sua crescente popularidade em lucro. Até mesmo Borthwick, talvez o principal articulador da internet em tempo real, admite que ainda não identificou um modelo de negócios de "arrasar quarteirão" para muitas das empresas da Betaworks.

Mas existe um método por trás dessa febre. Foi só nos últimos dois anos que várias acontecimentos se uniram para tornar a internet uma experiência em tempo real: conexões de alta velocidade à internet em todos os lugares; um número crescente de aparelhos móveis, como o iPhone, com navegadores completos para a internet; novas tecnologias da internet que possibilitam a transmissão instantânea de mensagens e dados. Essa mistura tornou as comunicações em tempo real uma coisa fácil e viciante. O exemplo mais simbólico, o Twitter, atraiu 44,5 milhões de pessoas ao seu site na internet em junho, além de um número provavelmente igual de pessoas que ganham acesso aos seus serviços por meio de outros sites. Os 250 milhões de usuários ativos do Facebook, cujas atualizações de status constantes são parte-chave de seu apelo, compartilham mais de 1 bilhão de vídeos, fotografias e outros tipos de conteúdo toda semana.

Na verdade, "real-time" não é um nome muito adequado. A maior parte dessa atividade não ocorre realmente em tempo real, como quando se conversa por telefone, e gestos sociais como o compartilhamento de links com amigos são tão importantes como parte do apelo como sua urgência. Esses gestos - frequentemente acompanhados de dados sobre o perfil das pessoas nas redes de relacionamentos, como os lugares onde vivem e suas idades - são a chave da potencial capacidade de se fazer dinheiro com a internet em tempo real. Aquilo sobre o que as pessoas estão conversando e compartilhando pode ser um indicador potente de seus interesses e intenções: quando alguém digita uma resposta a uma pergunta feita no Twitter como "o que você está fazendo?", suas respostas também podem revelar o que elas querem comprar - e naquele momento.

Esse é um conjunto de dados totalmente novo, oriundo de fontes externas aos mecanismos de busca e sites mais estáticos, que vem dominando a internet. É por isso que a web em tempo real representa um grande desafio para alguns líderes da internet, especialmente o Google. Os computadores do Google têm dificuldade em rastrear os fluxos de informação em tempo real. Os algoritmos da empresa preferem sites que atraem muitos links de outros sites. Mas esses links podem levar dias ou semanas para ser formados. O Google aumentou a frequência com que lista os principais sites em tempo real, e a atividade no Twitter está aparecendo com mais frequência nos resultados de busca. Mas como o Facebook e o Twitter mantêm grande parte desses dados sob sigilo, os mecanismos de busca não conseguem listar tudo.

Os serviços em tempo real também poderão fornecer em breve aos anunciantes uma outra maneira de atingir possíveis clientes, além dos mecanismos de busca. O Google já não tem um domínio tão grande na condução do tráfego para alguns sites da internet. O Twitter, por exemplo, tornou-se a segunda maior fonte de tráfego externo para o blog TechCrunch, atrás apenas do Google. Por enquanto, as agências de propaganda afirmam não ter planos de reduzir os gastos com o Google. Mas se os sites em tempo real começarem a gerar público significativo e dados que os anunciantes possam usar para alcançá-lo, o dinheiro pode começar a migrar.

Uma das áreas mais importantes do "tempo real" é a de buscas, graças a seu comprovado modelo de negócios de casar anúncios com buscas. A OneRiot de Boulder, no Colorado (EUA), uma entre mais de uma dúzia de serviços de busca em tempo real, explora não só o que as pessoas estao dizendo, mas também os links que elas estão compartilhando no Twitter, no site de compartilhamento de notícias Digg.com e em outros sites de relacionamento. O executivo-chefe Kimbal Musk observa que tópicos quentes como "Michael Jackson", ou "G-Force" deveriam proporcionar muito mais oportunidades de anúncios porque as pessoas recorrem repetidamente a eles em um curto período de tempo. "A busca tradicional é como ir a uma biblioteca", diz ele. "O tempo real é a busca certa, na hora."

Os serviços de busca estabelecidos não pretendem ficar para trás. Udi Manber, vice-presidente de engenharia de busca do Google, diz que hoje a companhia está indexando a internet, ou pelo menos as partes mais importantes dela, em poucos minutos. Há cinco anos, isso levava alguns meses. O Google pretende se movimentar ainda mais rapidamente no futuro, afirma Manber. "Se há alguma coisa importante na internet para você, nós temos que colocá-lo diante dela em segundos."

O homem que mais tem se esforçado para tentar descobrir o potencial revolucionário do tempo real é Borthwick. Esse londrino de 43 anos fez, este ano, uma postagem em um blog intitulada "Google: a próxima vítima da destruição criativa?". No artigo, ele sugere que o Twitter poderá transformar a gigante das buscas em apenas mais um concorrente se conseguir se transformar no lugar a que todos recorrerão em busca de notícias frescas e bate-papo. Ex-executivo da Time Warner, Borthwick foi um dos fundadores da Betaworks há dois anos e meio, junto com o ex-colega na AOL e capitalista de risco Andrew Weissman. Eles levantaram US$ 10 milhões, que estão usando para criar e desenvolver umas poucas companhias e co-investir em muitas outras, junto com investidores em companhias iniciantes, os "angel investors", e capitalistas de risco.

Além do Twitter, o portfólio da Betaworks é um verdadeiro quem é quem dos nascentes astros do tempo real. No ano passado, a Betaworks vendeu a Summize, um mecanismo de busca dedicado exclusivamente ao Twitter, para o próprio Twitter. As atuais companhias incluem a bit.ly, que resume os endereços de internet para que eles caibam no limite de 140 caracteres do Twitter, e a StockTwits, um site de discussões em tempo real sobre ações. Borthwick pretende criar um ecossistema em que o tempo real e os dados de relacionamentos possam se movimentar livremente entre os serviços, reforçando o valor das informações.

O que ainda não está claro é de onde esse valor vai emergir. Com o Twitter ainda estudando a maneira como pretende ganhar dinheiro, as companhias iniciantes que gravitam em torno dele não estão conseguindo estabelecer seus próprios modelos de negócio - além de vender a si mesmas para o Twitter ou para outra empresa. As incertezas estão mantendo alguns investidores afastados. Jeffrey M. Crowe, sócio-geral da Norwest Venture Partners, diz que sua empresa vem analisando várias companhias em tempo real, mas ainda não decidiu bancar nenhuma. "Ainda não se sabe quanto valor está sendo criado além do próprio Twitter", justifica ele.

Entretanto, muitos investidores estão dispostos a arriscar. "Haverá investimento em excesso", diz Peter Hershberg, co-executivo-chefe da Reprise Media, uma companhia de marketing on-line. "Mas também haverá um punhado de vencedores."
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