Negócios em TI prenunciam recuperação da economia

28-09-2009 21:08
Spencer E. Ante, BusinessWeek - Valor Econômico
 
Em três semanas, fusões e aquisições no setor somaram US$ 19,3 bi

Nas últimas semanas, Jon A. Woodruff, que comanda a área de fusões e aquisições do banco Goldman Sachs no setor de tecnologia, vem percebendo uma mudança no estado de espírito do Vale do Silício. As companhias de tecnologia estão acelerando a realização de negócios depois de um ano tranquilo. Num período de 21 dias, o Goldman Sachs trabalhou em três grandes negócios - a venda do Skype pelo eBay, a aquisição da Omniture pela Adobe e a aquisição da Perot Systems pela Dell. "As pessoas parecem mais dispostas a usar os talões de cheques novamente, nos ativos certos", diz Woodruff.

O aumento dos negócios é sinal de uma mudança mais ampla: a tomada de riscos está voltando ao setor tecnológico. As primeiras três semanas de setembro registraram fusões e aquisições tecnológicas avaliadas em US$ 19,3 bilhões, número que foi de US$ 2,5 bilhões em agosto e de US$ 11 bilhões em setembro do ano passado, segundo a Thomson Financial. Enquanto isso, mais companhias estão pedindo autorizações para aberturas de capital. Entre elas está a A123 Systems, uma companhia iniciante de Watertown, Massachusetts, que vem sendo acompanhada de perto pelos mercados. Os investimentos de capital de risco também estão aumentando. O serviço de micro-blogging Twitter captou recursos que dão a ele o valor de US$ 1 bilhão, segundo vários relatos.

Toda essa atividade está sendo conduzida por uma ideia central: o pior da recessão já passou e é hora de se preparar para tempos melhores. Economistas e outros especialistas afirmam que muitas companhias adiaram os investimentos em tecnologia durante a recessão e agora deverão acelerar as aplicações para gerar ganhos de produtividade vitais para os lucros. Mark M. Zandi, principal economista da empresa de análise Moody’s Economy.com, prevê que os investimentos do setor tecnológico nos Estados Unidos vão aumentar 4% em 2010 e 10% em 2011, depois de uma queda de 10% prevista para este ano. "Acho que estamos no ponto de virada para o setor de tecnologia", afirma Zandi.

Se isso for verdade, é um bom presságio para a economia como um todo. Zandi diz que muitos outros setores importantes da economia, incluindo o financeiro e o imobiliário, continuam com problemas e que o mercado de tecnologia é um dos poucos que pode sustentar a recuperação dos EUA. Além disso, como os gastos do consumidor deverão permanecer fracos, o crescimento econômico vai depender dos investimentos das companhias e das exportações, duas áreas conduzidas pela tecnologia.

Banqueiros, investidores e executivos do setor de tecnologia afirmam que é quase certo que mais negócios vêm por aí. Muitas companhias do setor contam com balanços fortes e caixa para financiar aquisições. Os mercados de crédito estão melhorando, o que deverá lubrificar o fluxo de negócios. E mais importante: compradores e vendedores estão tendo mais facilidade para acertar os preços. Mais no início do ano, com os preços das ações nos menores patamares registrados em muito tempo, as empresas estavam relutando em vender. Hoje, os compradores querem fechar negócios antes que os preços dos ativos subam ainda mais. "Agora que as avaliações voltaram um pouco, as percepções de valor dos compradores e vendedores estão um pouco mais alinhadas", diz John Donahoe, executivo-chefe do site de comércio eletrônico eBay.

A compra pela Dell da provedora de serviços Perot Systems, em 21 de setembro, é um exemplo da mudança de psicologia. Executivos da Dell afirmam que começaram a conversar com o presidente do conselho de administração da Perot Systems, Ross Perot Jr., em 2007, mas a Dell também chegou a negociar com outras provedoras de serviços e muitas preferiram esperar por preços melhores. As negociações com Perot esquentaram nos últimos meses, ao mesmo tempo em que o mercado de ações se recuperava. No fim, a Dell pagou um ágio de 68% pela Perot Systems e ainda poderá pagar o preço de venda de US$ 3,6 bilhões à vista, graças à boa situação de seu balanço.

O presidente do conselho de administração e executivo-chefe Michael Dell disse que o preço foi justo e que a Perot vai ajudar a alimentar o crescimento da Dell e reforçar sua posição competitiva. Enquanto isso, a Dell considera a possibilidade de novos negócios e mantém o talão de cheques à mão. "Podemos fazer mais na área de serviços, podemos fazer mais em equipamentos e podemos fazer mais em software", diz Brian Gladden, diretor financeiro da Dell.

Banqueiros e analistas apontam para outros segmentos do setor de tecnologia que parecem maduros para fusões e aquisições. Scott Kessler, analista da agência Standard & Poor’s, diz que uma área especialmente boa é a dos fabricantes de semicondutores e as companhias de software que fornecem produtos pela internet, incluindo aí a Taleo e a SuccessFactors. Ele acrescenta que pequenas e médias companhias de software como a Tibco Software e a Sybase também poderão ser alvos. Amity Millhiser, sócia da PricewaterhouseCoopers (PwC) no Vale do Silício, diz que os grupos interessados em compras estão à caça. "As companhias de tecnologia estão realmente em busca de negócios", afirma Millhiser. "Há muita demanda reprimida."

Sebastian Thomas, diretor de análises para o setor de tecnologia da RCM Capital Management nos EUA, que gerencia US$ 13 bilhões em ativos, diz que avanços como a computação em nuvem - um modelo pelo qual programas e dados estão disponíveis via rede e não no computador do usuário - provavelmente levarão gigantes como a Cisco ou a EMC a partirem para compras em segmentos como os de armazenagem, redes e tecnologia de gerenciamento de sistemas. Brocade Communications Systems, 3PAR, BMC Software, Riverbed Technology e Blue Coat Systems poderão atrair compradores em potencial, afirma Thomas.

O recente otimismo começa a se espalhar para outros segmentos da economia. Há nove semanas consecutivas, empresas vêm encaminhando documentos às autoridades solicitando permissão para abertura de capital, na maior sequência registrada em um ano. Entre as companhias que deverão lançar ações estão grupos varejistas, hoteleiros, fabricantes de bens de consumo e uma processadora de carne de porco, que tentarão levantar US$ 2 bilhões. No geral, as fusões e aquisições acumulam uma queda de cerca de 40% em relação ao ano passado, mas uns poucos bolsões de crescimento estão surgindo. Este mês, o número de negócios está em alta em comparação com o mesmo período do ano passado nos setores de consumo, imóveis, telecomunicações, saúde e mídia e entretenimento. Zandi diz: "Lentamente, mas com confiança, isso vai se espalhar pela economia". (Tradução de Mario Zamarian)
Voltar

Procurar no site

© 2008 Todos os direitos reservados.