Mortalidade dos negócios diminui com capacitação

02-08-2009 23:10
Domingos Zaparolli - Valor Econômico
 

Planejamento: Melhora do nível de formação do empreendedor tem impacto direto nos indicadores

O diretor técnico do Sebrae Nacional, Luiz Carlos Barboza, avalia que a gestão das pequenas empresas tem melhorado no Brasil e isso tem impacto positivo nos índices de mortalidade dessas empresas. Para ele, um dos grandes desafios do empreendedor é construir um ambiente interno colaborativo, que estimule os funcionários a participar na busca de melhorias. Para Barboza, que é membro do Conselho Curador da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), uma gestão eficiente representa ganho de competitividade e maior retorno do investimento.

Valor: Um estudo do Sebrae SP informa que a falta de planejamento e a baixa qualidade da gestão estão entre as principais causas geradoras de mortalidade de pequenas empresas. Quais são as principais dificuldades que o empreendedor enfrenta para gerir adequadamente seus negócios?

Luiz Carlos Barboza: As principais dificuldades dividem-se em duas categorias: Aquelas relacionadas ao ambiente externo à empresa: burocracia, excessos de regulamentação, dificuldade de acesso ao crédito. E as do ambiente interno, como gestão deficiente, capacitação insuficiente dos trabalhadores e o baixo nível de inovação. Mas, felizmente, os dados da sobrevivência de empresas têm melhorado significativamente desde o início da década. Pesquisa do Sebrae realizada em todo o Brasil mostra que 78% delas sobrevivem nos dois primeiros anos de vida. Em 2002, eram apenas 50% . Essa melhora deve-se a três fatores combinados: melhora da economia no período; melhora do nível educacional dos novos empreendedores; e elevação da qualidade da gestão nessas novas empresas. Nossas pesquisas apontam que, no início da década, eram minoritários os pequenos empresários que praticavam ações como planejamento, marketing, controle financeiro e gestão de recursos humanos. Hoje esses conceitos estão mais difundidos.

Valor: Quais são os principais benefícios que um pequeno empresário pode esperar como resultado de um bom gerenciamento?

Barboza: Gerir bem uma empresa compreende planejar, executar, acompanhar e avaliar. Inclui ter uma boa leitura do ambiente em que opera, estar atento às mudanças, orientar-se para o mercado com um bom atendimento aos clientes, montar uma equipe de pessoas comprometidas e capacitadas, zelar pelos custos e finanças.

Valor: Em uma pequena empresa, o líder tem que se envolver em inúmeras tarefas operacionais e executivas. Com isso, não lhe sobra tempo, muitas vezes, para se dedicar a observar problemas gerenciais e inovar em seu modelo de gestão. Como superar essa barreira?

Barboza: Existem vantagens e desvantagens nos tamanhos das empresas. Na pequena, o líder se envolve com inúmeras tarefas cotidianas, mas tem a vantagem de interagir diretamente com toda a equipe e assim ganhar em agilidade. Aliás, essa é uma das principais vantagens da pequena empresa: agilidade operacional e capacidade de adaptar-se às mudanças. Se o empresário da pequena empresa criar um ambiente colaborativo com seus empregados poderá estimular a inovação com vantagens em relação à grande empresa.

Valor: A maioria dos modelos de gestão empresarial é desenvolvida para aplicação em grandes empresas. É possível reproduzir os mesmos modelos em pequenas ou elas exigem modelos próprios?

Barboza: Os modelos têm a mesma base conceitual. A grande diferença se dá na aplicação, devido às estruturas organizacionais distintas. Portanto, há necessidade de se fazer ajustes para aplicar-se nas pequenas empresas. Tem-se que considerar que nas pequenas empresas as equipes são reduzidas e multidisciplinares. Muitas das tarefas que caberiam a pessoas distintas numa grande empresa terão que ser executadas, de maneira integrada, numa empresa de menor tamanho. Um exemplo é o ciclo PDCA (planejamento, execução, monitoramento e avaliação). Suas bases conceituais se aplicam tanto a grandes quanto a pequenas. Nas pequenas, o ciclo PDCA é aplicado de maneira simplificada e considerando que uma mesma pessoa poderá responsabilizar-se por todas as etapas.

Valor: Como o pequeno empresário deve agir para encontrar um modelo de gestão que seja adequado ao seu negócio?

Barboza: O pequeno empresário deve optar pelo modelo que sinta maior segurança e entendimento quanto ao que será implantado. Como a pequena empresa nem sempre poderá contar com consultores externos por longo tempo deve-se dar preferência a modelos que possam ser mais facilmente assimilados pelo líder e pela sua equipe. Modelos complexos, dependentes de competências externas e que requerem longa implementação devem ser preteridos por modelos mais simples, que a própria equipe possa implementar com um determinado apoio de consultores externos.

Valor: Quais são as ferramentas que o Sebrae disponibiliza ao pequeno empresário para melhorar o gerenciamento de sua empresa?

Barboza: Temos ferramentas que podem ser utilizadas para cada estágio de desenvolvimento da empresa. Nos dois primeiros anos de vida, a empresa precisa de um plano de negócios e de solucionar problemas pontuais. Temos cursos presenciais e a distância para cada situação: controle financeiro, custos, marketing, recursos humanos, etc. Já as empresas com mais de dois anos de vida e com pretensões de crescer possuem desafios diferentes. Para essas temos soluções baseadas no ciclo PDCA e que combinam diagnóstico, capacitações presenciais e a distância, consultorias de gestão, encontros empresariais, acompanhamento sistemático e avaliações periódicas. Uma ferramenta importante é o modelo de gestão da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), que adaptamos para o universo das pequenas empresas, onde o empreendedor pode fazer um diagnóstico de sua gestão e receber um roteiro para aprimorá-la e ainda uma avaliação de seu esforço por meio do Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas (MPE Brasil), que em 2008 contou com 53 mil inscritos e esperamos alcançar 75 mil neste ano.

Valor: Como o pequeno empresário pode motivar seus funcionários em relação aos objetivos traçados?

Barboza: O líder deve buscar a construção de um ambiente interno participativo e estimulador da busca de melhorias contínuas. A construção desse ambiente propício à inovação é mais fácil de obter numa pequena empresa devido à interação direta e fluida entre o líder e os funcionários.

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