Internet no trabalho: liberdade até que ponto?

30-11-2009 17:26
Tatiana de Mello Dias - Caderno Link - O Estado de S. Paulo
 

Você deve conhecer a cena: está no trabalho e resolve dar uma arejada. Bate um papo no MSN com um amigo, twitta alguma coisa, dá uma fuçada no Orkut. Até que seu chefe aparece e você fecha a janela rapidinho, disfarça e volta ao batente. Não é de hoje que as empresas investem na web 2.0. Mas por que, dos muros para dentro, a coisa ainda é diferente?

“As empresas consideram que os funcionários deixarão de trabalhar e gastarão o tempo precioso mandando mensagens para os amigos”, diz Roberto Britto, da consultoria internacional de RH Robert Half. Segundo uma pesquisa realizada nos EUA pela consultoria, 54% das empresas proíbem totalmente o acesso à redes sociais durante o expediente.

“Acredito que a conscientização do usuário vai ser o principal desafio das corporações para que os benefícios da web 2.0 possam ser usufruídos com segurança”, diz Rodrigo Souza, da consultoria EZ Security. Ele diz que o funcionário é o principal culpado por falhas na segurança da internet nas empresas – vírus e vazamento de informações sigilosas, por exemplo. “Devido à falta de conscientização e de treinamento, surgem todos os dias novos sites maliciosos com o intuito de explorar essa fraqueza”, explica.

Na Catho, empresa de recrutamento online, a maioria dos funcionários tem acesso restrito à internet. "Tentamos deixar claro para o profissional que os recursos que disponibilizamos aqui não são deles, são da empresa”, diz Lucio Tezotto, gerente de atendimento. Segundo ele, já houve funcionários que deixaram de trabalhar para conversar pelo Messenger. “A partir disso passamos a monitorar”, conta. O acesso a redes sociais e a e-mails pessoais são proibidos, e o MSN é utilizado só com contas corporativas.

Segundo a legislação brasileira, o e-mail corporativo, o computador e a conexão são da empresa. Isso significa que tudo o que você faz online pode ser monitorado. Não é crime trocar mensagens pessoais pelo e-mail corporativo, mas a empresa tem o direito e o amparo legal para monitorar tudo o que for escrito. “É justo que a empresa possa tomar algumas atitudes para evitar atos ilícitos”, explica o advogado Renato Opice Blum, especialista em direito digital. A empresa só não pode monitorar mensagens trocadas via e-mail ou MSN pessoal – é por isso que, na maioria dos casos, as empresas optam pela proibição do uso de ambos para evitar problemas.


CAMINHO DA LIBERDADE

Segundo a mesma pesquisa da Robert Half, só 10% das empresas liberam o acesso a redes sociais. O caminho da liberdade existe, mas demanda educação e conscientização de funcionários e empregadores. “Acho que isso acaba virando uma onda inevitável. As pessoas vão usando e vão entendendo que, usando bem, esses recursos ajudam”, diz Luiz Alberto Ferla, presidente da agência de internet Talk. “Mas tem que ter gerenciamento pra não haver abusos. O RH precisa dar regras”, define. Na empresa dele, os funcionários podem acessar a internet antes e depois do expediente e no horário de almoço.

Na agência de comunicação TV1, mesmo quem não trabalha em áreas diretamente relacionadas à internet e comunicação tem livre acesso a redes sociais. “A abertura foi gradual”, explica Caroline Morato, gerente de RH da empresa. “Hoje é liberado, mas a gente tem o cuidado de observar se o usuário usa de forma adequada. Pode acontecer de a gente tirar”, diz. O acesso a redes sociais é tão comum dentro da empresa que o próprio departamento de RH tem um perfil no Twitter para informar os funcionários sobre as atividades internas.

Segundo uma pesquisa inédita da Robert Half, 91% dos executivos brasileiros têm perfis em redes sociais – se precisar de um argumento para convencer seu chefe, taí um bom motivo para fazer networking. Os perfis também são usados na hora de contratar funcionários. A rede mais lembrada é o LinkedIn, mas o Twitter, o Orkut e o Facebook também podem ajudar a construir o perfil profissional.

Para usar a web 2.0 e preservar a reputação profissional, é preciso é prestar atenção, é claro, nas informações, fotos do perfil e comunidades relacionadas a você. Para Caroline, da TV1, não dá para levar a sério, por exemplo, comunidades como “Eu odeio acordar cedo”. “Participar não significa que a pessoa não acorde cedo”, diz ela. A gerente de RH, porém, diz que costuma checar nas entrevistas se a pessoa realmente tem o perfil que mostrou na rede social. “Se ela participa das comunidades da empresa, por exemplo, mostra que ela tem um bom relacionamento com os colegas”, diz ela.

As ferramentas podem, sim, atrapalhar, mas também podem ajudar o funcionário a ter ideias e a ser mais produtivo. Para isso, porém, é preciso conscientização. “você tem que educar, delegar tarefas e confiar. Tudo na vida é assim. Quem usa tem que ter responsabilidade, e alguém precisa definir os limites”, diz Luiz Alberto Ferla, da Talk.


FOTO:
COM RESTRIÇÕES –"Na recepção do funcionário já dizemos as regras", diz Lúcio Tezotto, gerente da Catho, que restringe o acesso à internet
ERNESTO RODRIGUES/AE

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