Grupos cultivam empresários em meio à pobreza

06-11-2009 12:04
KATE MURPHY, The New York Times - Folha de S. Paulo
 

Agências governamentais e grupos internacionais há tempos apoiam programas que treinam pessoas carentes para abrir e operar seus próprios negócios. O treinamento é considerado uma forma de acabar com a fome e estabilizar sociedades. Mas ultimamente o interesse por esses programas cresceu, devido à maior disponibilidade de microcrédito aos pobres.
"Houve uma percepção na comunidade microfinanceira de que os receptores de empréstimos têm maior probabilidade de sucesso se também receberem educação comercial", disse Bobbi Gray, especialista da Freedom From Hunger, organização sem fins lucrativos da Califórnia (EUA) que oferece educação financeira em países em desenvolvimento.
De Botsuana à Bolívia, o treinamento empresarial resultou em prósperas microempresas -fabricantes de sabão, processadores de cacau e exportadores de artesanato- que de outro modo não existiriam. Alguns programas reúnem aldeões em cabanas e usam cestos para demonstrar como alocar capital. Outros se concentram nas dificuldades enfrentadas por empresas já estabelecidas, para ensinar temas como precificação e distribuição.
O TechnoServe, grupo sem fins lucrativos de Washington, ajuda empresários em países em desenvolvimento desde 1968. O grupo, que trabalha com a Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid) e o Departamento de Estado americano, oferece consultoria empresarial grátis e patrocina concursos para identificar aspirantes a empresários.
Bruce McNamer, presidente da TechnoServe, cita o exemplo de uma cooperativa de 50 agricultores no norte da Nicarágua, que há quatro anos mal conseguia subsistir. Com a assistência especializada, a cooperativa se dedicou a outras plantações, que aumentaram seus lucros -como a de malanga, que produz amido. Hoje, a cooperativa tem 250 agricultores e abriu sua própria fábrica de embalagens.
Ensinar técnicas financeiras e empresariais é considerado especialmente importante em regiões devastadas pela guerra, como o Afeganistão e o Iraque.
Ross Paterson, oficial aposentado do Exército americano que se autodescreve como treinador empresarial, esteve no Afeganistão dez vezes nos últimos sete anos para ensinar empreendedorismo. Ele disse que é importante dar aos afegãos a capacidade de criar empresas que forneçam uma renda para sustentá-los.
Muitos dos que ensinam empreendedorismo em áreas remotas e pobres dizem que o maior obstáculo é convencer os estudantes de que há oportunidades além de, por exemplo, vender frutas ou bugigangas em uma feira livre.
Harsh Bhargava, consultor de empresas na Virgínia (EUA), e sua mulher, Aruna Bhargava, professora de sociologia na Universidade Rutgers em Nova Jersey, fundaram em 1997 o grupo sem fins lucrativos I Create, para ensinar empreendedorismo em seu país natal, a Índia.
Ele diz que muitas pessoas com quem a entidade trabalha estão tão oprimidas que não conseguem imaginar outro modo de vida. Uma mulher havia sofrido tantos abusos do marido e dos cunhados que não tinha confiança para olhar ninguém no rosto.
Depois que um treinador da I Create a convenceu a fazer um curso de empreendedorismo, ela deixou o marido e abriu uma mercearia. Depois, processou os abusadores para que devolvessem seu dote e dessem pensão alimentar para seu filho. "É esse tipo de história que torna tão gratificante o que fazemos", disse Bhargava.

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