Gripe A muda gestão de grandes empresas

18-08-2009 10:28
Daniele Madureira, Beth Koike, Marli Lima e Vanessa Jurgenfeld - Valor Econômico
 
Afastamento de funcionárias grávidas é adotada por vários bancos e fabricantes de bens de consumo

O vírus H1N1, responsável pela transmissão da influenza A, ou gripe suína, muda a gestão das grandes empresas. Nos mais diferentes setores, de bancos a redes de varejo, passando por fabricantes de alimentos, confecções e operadoras de telefonia móvel, as companhias implantam medidas para preservar a equipe de funcionários, tentando evitar um surto de contaminação interna e, assim, a perda de produtividade.

Fora as campanhas internas de prevenção veiculadas nos meios de comunicação corporativa, a medida mais importante até agora é o afastamento das grávidas. A iniciativa foi defendida ontem pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que orientou os seus 120 associados a dispensar as funcionárias gestantes, pelo período máximo de 10 dias, até que elas apresentem uma recomendação médica indicando a permanência ou a necessidade de afastamento temporário delas do emprego. Em Brasília, o Senado decidiu afastar as servidoras grávidas por tempo indeterminado.

Os bancos também devem deixar disponível álcool em gel para os funcionários. Com uma equipe de 85 mil pessoas, o Bradesco já está tomando essa medida, estendida também ao público, que poderá higienizar as mãos nas agências.

O Itaú Unibanco acompanha o avanço da gripe desde os primeiros casos detectados no México e criou um comitê para acompanhar a evolução da doença em todos os países onde atua (além do Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai). As gestantes que trabalham no conglomerado, que emprega 104 mil pessoas, já estão orientadas a ficar em casa.

Com 25 mil funcionários em todo o país, o HSBC montou um esquema especial para 300 funcionárias grávidas. Dessas, 100 trabalhavam diretamente com o público e estão há uma semana afastadas. As outras 200 gestantes, que atuam na área administrativa, também devem ficar em casa até o final do mês. "Inicialmente transferimos as gestantes para o administrativo, mas agora decidimos que o ideal é que elas fiquem em casa para sua maior segurança", diz Eduardo Oliveira, consultor médico do HSBC, que montou um "comitê de crise" formado por vice-presidentes do banco e médicos para tratar da gripe suína. Nos últimos 30 dias, 80 funcionários do banco, com suspeita de gripe A, foram afastados por uma semana. Hoje, cerca de 40 estão em casa.

A Unilever também criou um grupo especial para acompanhar a evolução da doença no mundo e orientar os cuidados com funcionários em cada país. O "comitê de crise" da multinacional de alimentos e higiene e limpeza realiza, toda semana, conferências por telefone com a sede da companhia, nos Estados Unidos. Até o momento, foram detectados sete casos de funcionários contaminados no Brasil, entre um total de 12 mil trabalhadores. "Nenhum deles foi internado e já voltaram ao trabalho, depois de um afastamento que durou oito dias em média", diz Elaine Molina, diretora de saúde da Unilever, que não está afastando mulheres grávidas por entender que elas não estão em risco no trabalho.

Na Vivo, as 131 grávidas que atuam na área administrativa da operadora estão desde terça-feira trabalhando em casa. Elas ficarão afastadas até o final do mês. "Tivemos cinco casos confirmados de funcionários e outros cinco casos de dependentes desses empregados", diz Michel Daud Filho, diretor de saúde e qualidade da Vivo.

Funcionária da Kraft em Curitiba (PR), a jornalista Adriana Teixeira está grávida de cinco meses e recebeu orientação para exercer suas funções em casa. Ao mesmo tempo, aproveitou para ficar com a filha, que teve férias escolares prolongadas. A medida atingiu outros trabalhadores da multinacional de alimentos, que conta com um comitê de situações especiais, que promove reuniões semanais para tratar do tema gripe. No início, foram providenciados álcool em gel e cartazes de orientação em pontos estratégicos em todas as unidades.

A prevenção aumentou há duas semanas. "Com a suspensão das aulas escolares, os gestores tiveram a recomendação de que fossem sensíveis à situação, para aqueles que não tivessem com quem deixar os filhos pudessem ficar com eles", conta Fabio Acerbi, diretor de assuntos corporativos e coordenador do comitê. O uso de banco de horas foi permitido e férias puderam ser solicitadas com menos tempo de antecedência. Segundo ele, 50% dos funcionários da Kraft são mulheres. "A situação está sob controle e o absenteísmo não está acima da média", diz.

Com 25,3 mil funcionários, a GRSA, que lidera o mercado de refeições coletivas no Brasil, decidiu afastar temporariamente as funcionárias gestantes que trabalham em hospitais (divisão saúde) e nas unidades da divisão varejo (lanchonetes em rodoviárias, por exemplo). Nas outras unidades, as grávidas são transferidas para funções de menor contato com o público. Medida semelhante foi adotada pelos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, de São Paulo.

Na indústria têxtil Dudalina, as grávidas começaram a receber licenças remuneradas a partir do sétimo mês de gestação. De acordo com Sônia Hess, presidente da empresa catarinense, as demais grávidas passaram a usar máscaras, trocadas a cada quatro horas. Dos 1,3 mil funcionários, 900 são mulheres. Entre elas, são 31 grávidas, sendo que 40% estão entre o sétimo e o oitavo mês de gestação.

Sônia diz que não será necessária a contratação de temporários para substituição dessas gestantes, mas haverá um remanejamento de funcionários para substituí-las. O único caso suspeito de gripe na Dudalina foi de um homem, na unidade do Paraná, que acabou não se confirmando. Além da dispensa das grávidas, a empresa distribuiu cartazes com orientações e passou a dividir o volume de funcionários em horários de lanche ou almoço.

A indústria têxtil Hering decidiu dispensar todas as gestantes entre hoje e sábado da semana que vem, dia 22, por considerar que no período de início de transição de estação, do inverno para a primavera, poderá haver uma maior proliferação do vírus. O período de dispensa poderá ser prorrogado, o que ainda não está definido. Além das unidades fabris, a mesma orientação foi dada às lojas próprias da empresa.

De acordo com Ulrich Kuhn, membro do conselho de administração da Hering e presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis do Vale do Itajaí (Sintex), além da dispensa para todas as gestantes da empresa, a licença maternidade foi antecipada para o sétimo mês. A empresa contabilizará nos próximos dias o número de grávidas que se enquadrarão nesta medida. Atualmente, são cerca de 5 mil trabalhadores, sendo aproximadamente 70% mulheres. Segundo Kuhn, não houve registro da doença em funcionários na empresa.

A maior varejista de eletrodomésticos do país, a Casas Bahia, com mais de 500 lojas e 60 mil funcionários, decidiu tomar uma medida sui generis. Está oferecendo um medicamento homeopático, sem contra-indicação, segundo a empresa, a todo o corpo funcional. Trata-se, segundo a assessoria de imprensa da varejista, de um medicamento em gotas que auxilia no aumento da imunidade contra qualquer tipo de gripe. A medida foi tomada há cerca de 30 dias e consiste em três doses, uma por semana. A medicação começou pelos Estados onde a doença é mais crítica: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde já foram aplicadas 50 mil doses. Ao todo, 180 mil doses serão fornecidas.

De acordo com a empresa, a medida foi tomada a partir de uma experiência positiva que a Casas Bahia teve durante um surto de dengue na cidade de São José do Rio Preto (SP). Os funcionários tomaram um remédio homeopático e a doença foi contida. Segundo a rede, nenhum funcionário foi contaminado com a gripe suína até agora. A varejista, no entanto, não pretende dispensar as grávidas.

Por prevenção, em cidades onde a doença é crítica, como em Macaé (RJ), as gestantes que trabalham no caixa estão usando máscaras.

A rede varejista Wal-Mart, por sua vez, informou que ainda está levantando o número de gestantes e lactantes entre o quadro geral de 75 mil funcionários no país para definir o que fazer.(Colaboraram Luciana Marinelli, de São Paulo, e Sérgio Bueno, de Porto Alegre)
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