Gestores da internet preparam novas regras

26-11-2009 13:24
Ana Luiza Mahlmeister e Gustavo Brigatto, de São Paulo - Valor Econômico
 

Cenário: Uma das propostas prevê a disputa por nomes de domínio como www.notícias ou www.futebol

Com 40 anos de vida, a internet se prepara para mudanças importantes. Criada como uma rede universitária, a Arpanet, no fim da década de 60, a rede mundial de computadores massificou o protocolo IP - o padrão que permite a troca de dados entre os computadores -, foi acumulando camadas de outras redes e agora precisa dar novos passos para continuar crescendo. Para ir além dos atuais 2 bilhões de computadores conectados, os gestores da rede iniciaram um movimento de migração gradual do protocolo IPv4 para o IPv6, que aceita um número praticamente ilimitado de máquinas interligadas.

Outra mudança importante será nos nomes de domínio de primeiro nível (".com", ".net", ".org" etc) que somam apenas 22 e limitam a expansão dos negócios na rede. Previsto inicialmente para o ano que vem, o guia do candidato aos novos domínios - o conjunto de normas que regulará a candidatura aos nomes que serão criados - está em sua versão três, mas a definitiva não tem data para ser lançada. "Há muitos interesses em jogo, pois [a mudança] afetará diretamente marcas e produtos, além de abrir um leque muito maior de empresas registradoras de domínios", explica Karla Valente, diretora de produtos e serviços da Corporação para a Atribuição de Nomes e Números na Internet (Icann, na sigla em inglês) que esteve em São Paulo para participar do evento "A internet do futuro", também patrocinado pela Associação Brasileira de Internet (Abranet).

A Icann, que elabora as normas da internet, propõe a ampliação ilimitada de domínios genéricos de primeiro nível ou gTLDs (generic Top-Level Domain), o nome que vem depois do ponto (com, org etc), sem incluir os nomes de países, regidos por outras regras. Na prática, uma empresa poderia se candidatar a ser proprietária de qualquer palavra na rede mundial como www.notícias, www.finanças ou www.futebol, por exemplo. Os novos domínios podem ser comunidades como www.ianomami, marcas de empresas, setores como www.bancos, produtos e entidades. Para a Icann, isso aumentará muito a complexidade de administração dos domínios, que podem chegar às centenas e até milhares.

Só podem se candidatar pessoas jurídicas. Para se aplicar a um domínio será necessário preencher uma proposta on-line no site da Icann e pagar US$ 185 mil de taxa de análise. Essa candidatura será analisada por vários conselhos internos e colocada em consulta pública para a manifestação de outras empresas. Caso haja oposição, há outras taxas de defesa do domínio. Uma vez aprovado o domínio, a taxa de manutenção anual é de US$ 25 mil. As empresas que se candidataram a determinado domínio poderão fazer uso dele ou licenciá-lo para outros interessados. "A empresa que detém o ’notícias’, por exemplo, poderá comercializar o nome para um jornal ou revista que queira fazer uso dele", diz Karla. No caso de duas empresas se aplicarem ao mesmo domínio, haverá leilão, elevando o gasto para muito além dos US$ 185 mil iniciais.

A Icann também poderá enviar a candidatura para análise do World Intelectual Property Organization, que arbitra sobre marcas e propriedade intelectual.

Um dos principais obstáculos ao lançamento do Guia do Candidato é definir possíveis bloqueios de candidaturas e se a Icann poderá fazer isso. A propriedade virtual de palavras como "Deus", "holocausto", "Jesus", "Islã", entre muitas outras, devem provocar polêmica. Há também a oposição de empresas que anteveem a pressão de registrar domínios de todos os seus produtos, elevando muito os custos. Outra dificuldade está nas normas de aceitação de nomes de comunidades pois haverá dificuldade para provar que são representativas (como o domínio www.tupi-guarani, por exemplo). Essas questões não são fáceis de resolver e podem consumir todo o ano que vem, afirma Karla.

Hoje, existem 900 empresas registradoras de domínios (as chamadas "registrars") no mundo. A mais famosa é a Verisign (dona do ".com" e ".net"), com 50% do mercado. Eduardo Parajo, presidente da Abranet, acha difícil que a ampliação dos nomes de domínio represente uma oportunidade para os pequenos provedores de acesso à internet. "O investimento de uma licenciadora de domínios começa em US$ 500 mil. É um mercado para grandes empresas", afirma Parajo.

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Brasil tem mais de 2,5 milhões de domínios registrados

A base de domínios registrados em todo o mundo chegou a 184 milhões em junho, segundo levantamento feito pela VeriSign, companhia responsável pelas extensões .com e .net. O número representa um crescimento de 9% com relação ao mesmo período do ano passado. No Brasil, a evolução foi de 7%. Segundo a empresa, o movimento está relacionado à liberação de registro dos endereços net.br e com.br também para as pessoas físicas entre abril de 2009 e maio de 2008.

"Era uma demanda dos internautas", explica Francisco Neves diretor de serviços e tecnologia do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br (Nic.Br). Desde que a internet comercial entrou em operação no Brasil o registro de domínios com essas extensões estava restrito a empresas. Para as pessoas e profissionais liberais, as opções eram endereços com terminação blog.br, wiki.br, eng.br, adm.br e adv.br, dependendo do ramo de atividade. Também estavam disponíveis o .com, .net, .org .biz e .info.



Das cerca de 2,5 milhões de páginas registradas por brasileiros ou empresas que atuam no país, mais de 75% têm a terminação .br em seu endereço, sendo o .com.br e o .net.br responsáveis por 93% deste total, ou 1,8 milhão.

Até junho, segundo a VeriSign, o .com e o .net acumulavam 553 mil registros, um crescimento de 10% na comparação com o mesmo período de 2008. Segundo Érica Saito, gerente regional de serviços de informação da empresa na América Latina, a velocidade de expansão das novas assinaturas está diminuindo, mas o resultado ainda é positivo. "Estamos acima da média mundial", comenta.

O ritmo de crescimento, no entanto, está bem mais lento do que o apresentado entre 2005 e 2007. Neste período, a expansão da base ficou na casa dos 70% ao ano, fruto de um investimento forte da VeriSign para divulgar os endereços no mercado local e aumentar a rede de empresas autorizadas a fazer o processo de registro. "Não tínhamos distribuidores na América Latina até 2005", diz Érica.

O trabalho de estruturação começou pelo Brasil e se expandiu para Argentina e México a partir do ano passado. Hoje a empresa tem nove distribuidores na região, sendo seis no Brasil, que se ligam a centenas de outros revendedores. No primeiro semestre de 2009, o número de domínios registrados na América Latina cresceu 12% com relação ao mesmo período de 2008.

Para a executiva, a liberação dos endereços .com.br e net.br teve impacto no crescimento dos registros no Brasil, mas ela acredita que os endereços são na verdade complementares. "Se você tiver mais de um registro, você protege o valor da sua marca por um custo muito baixo", diz. O registro anual de um domínio .com ou .net pode custar menos de R$ 20 em provedores brasileiros. Já o .com.br pode ser encontrado por até R$ 30. As empresas de hospedagem podem fazer promoções e cobrar diferentes preços pelo serviço de registro. De acordo com Neves a expectativa é de que os endereços .br cheguem à marca de 2 milhões em 2010.

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