Em direção a uma nova internet

11-03-2009 16:45

Há duas décadas, um estudante universitário brilhante de 23 anos colocou a internet de joelhos com um simples software que saltou de computador para computador com rapidez vertiginosa, engarrafando totalmente a rede, então pequena, em questão de poucas horas.
O programa foi pensado apenas como brincadeira digital. Desde então, porém, as coisas vêm se agravando muito.
Cada vez mais engenheiros e especialistas em segurança pensam que a segurança e a privacidade na internet se tornaram tão frágeis que a única maneira de consertar o problema é recomeçar do início.
Qual poderia ser a cara de uma nova internet é algo ainda largamente debatido, mas uma alternativa é criar o que na prática seria um "condomínio fechado", cujos usuários abririam mão de seu anonimato e de certas liberdades em troca de segurança. Já é esse o caso hoje de muitos internautas a serviço de empresas e governos.
À medida que a rede nova e mais segura for amplamente adotada, a internet atual pode acabar sendo relegada à condição de bairro perigoso do ciberespaço. Você entraria nele por sua conta e risco e ficaria atento aos perigos enquanto estivesse navegando.
"Se não nos dispusermos a repensar a internet de hoje, estaremos simplesmene esperando acontecer uma série de catástrofes públicas", disse Nick McKeown, engenheiro da Universidade Stanford, na Califórnia, envolvido na construção de uma nova web.
Esse fato ganhou destaque no ano passado, quando um programa de software malicioso -aparentemente desencadeado por criminosos do Leste Europeu- apareceu de repente, depois de desviar-se facilmente das melhores ciberdefesas do mundo.
Conhecido como Conficker, ele rapidamente infectou mais de 12 milhões de computadores, devastando desde o sistema de computadores hospitalares do Reino Unido até as redes de computadores das Forças Armadas francesas.
Uma versão nova do programa, conhecida como Conficker B++, foi lançada em fevereiro, depois de equipes de segurança de computadores terem inoculado o original.
O Conficker ainda é uma bomba-relógio ativada e demonstrou que a internet ainda é altamente vulnerável a um ataque coordenado.
"Se você procura um Pearl Harbor digital, já temos os aviões japoneses no horizonte, voando em nossa direção", disse Rick Wesson, executivo-chefe da consultoria de computadores Support Intelligence.
Os criadores da internet jamais imaginaram que a rede um dia carregaria o peso de todas as comunicações e o comércio do mundo. Pouca atenção foi dada à segurança. Desde então, esforços imensos foram feitos para proteger a rede, mas com poucos resultados.
"Sob muitos aspectos, provavelmente estamos em situação pior do que estávamos 20 anos atrás", disse Eugene Spafford, diretor-executivo do Centro de Educação e Pesquisas em Segurança da Informação da Universidade Purdue, no Estado de Indiana. "Isso porque todo o dinheiro foi dedicado a remendar os buracos atuais, em lugar de investir no redesenho de nossa infraestrutura."
Apesar de uma indústria global crescente de segurança de computadores, cuja receita projetada para 2010 é de US$ 79 bilhões, e o fato de que, em 2002, a própria Microsoft lançou um esforço para melhorar a segurança de seus softwares, a segurança na web continua a deteriorar-se.
Mesmo as redes militares mais fortemente protegidas já mostraram ser vulneráveis. Em novembro passado, o comando militar americano encarregado das guerras do Iraque e do Afeganistão descobriu que suas redes de computadores tinham sido infectadas com softwares que podem ter permitido um ataque devastador de espionagem.
É por isso que cientistas armados com dólares de pesquisas federais estão estudando, em colaboração com a indústria, a melhor maneira de recomeçar do zero. Em Stanford, onde foram projetados os protocolos de software da internet original, pesquisadores estão criando um sistema que possibilitará colocar uma rede mais avançada sob a web de hoje. Até meados do ano, essa rede mais avançada estará funcionando em oito campi universitários nos Estados Unidos.
A ideia é construir uma internet mais segura e capaz de suportar uma nova geração de aplicativos ainda não inventados.
O projeto Tábula Rasa de Stanford vai dotar criadores de software e hardware de uma caixa de ferramentas para fazer dos elementos de segurança uma parte mais integral da rede. Apesar de todos esses esforços, porém, os verdadeiros limites à segurança dos computadores podem estar na natureza humana.
"Assim que você começa a lidar com a internet pública, todo o conceito de confiança vira um atoleiro", disse Stefan Savage, especialista da Universidade da Califórnia em San Diego.
Uma rede mais segura quase certamente oferecerá menos anonimato e privacidade. Essa é provavelmente a maior concessão que os criadores da próxima web terão de fazer.
Mas comprovar identidade deve continuar a ser muito difícil, em um mundo em que é tão fácil invadir qualquer computador. Enquanto isso persistir, construir um sistema totalmente confiável continuará a ser virtualmente impossível.

Fonte: The New York Times
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