É preciso preparar os jovens para tomar decisões financeiras

31-03-2010 12:01
Lavínia Martins - Valor Econômico
 
O tema do planejamento financeiro pessoal tem sido recorrente nesta coluna e é muito interessante ver que está se tornando o assunto "da moda" no mercado financeiro. Esse deve ser um assunto em voga não só por trazer maior volume de trabalho e de recursos para o mercado nacional, mas pela necessidade de educação financeira da população brasileira de um modo geral.

No ano passado, nos eventos do programa de educação continuada promovidos pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF) aos planejadores financeiros certificados (detentores da insígnia CFP®), falou-se muito sobre a dificuldade que as pessoas têm de tomar decisões e o desejo de delegar essa tarefa a terceiros.

Quando falamos em educação financeira é importante abordar a tomada de decisões, porque para muitos ela é uma tarefa árdua. Mas precisa ser tratada como um dever do indivíduo. Cada pessoa sabe quais são as suas necessidades pessoais e deve ser orientada a tomar decisões de forma a suprir da melhor maneira possível seus próprios desejos. Só assim ela alcançará um nível ótimo de satisfação com as decisões tomadas e com o resultado obtido por meio delas delas.

O planejamento financeiro pessoal inicia-se com o conhecimento das necessidades do cliente por parte do consultor financeiro e com o estabelecimento de um relacionamento de confiança entre este e seu cliente. No entanto, o consultor não pode tomar decisões pelo cliente. Ele deve apresentar as alternativas possíveis para que o cliente mesmo opte pela que mais lhe convém de acordo com o seu próprio ponto de vista. O que é bom ou ruim, melhor ou pior, muda de acordo com os valores e necessidades de cada pessoa.

Por exemplo, para aqueles que leram "Pai Rico, Pai Pobre", parece ser mais inteligente ter dinheiro aplicado e morar de aluguel do que ter uma casa própria e o dinheiro parado em um imóvel. Já para outras pessoas é mais importante morar em um imóvel próprio e ter uma poupança disponível menor do que pagar aluguel todo mês, o que é visto como "dinheiro jogado fora".

Cabe ao consultor financeiro apenas fazer os cálculos e demonstrar ao cliente os valores em dinheiro e em percentuais das alternativas, e o cliente é quem deve escolher se quer ou não comprar um imóvel para moradia ou se prefere manter o dinheiro aplicado em um investimento financeiro.

Mas como tomar decisões? Isso me leva ao artigo do Renato Bernhoeft publicado no dia 5 de março, no qual ele expõe a falta de educação financeira dos jovens dentro de casa, por falta de atenção e orientação dos pais de como os filhos devem lidar com dinheiro. Vejo que muitas vezes os próprios pais não sabem lidar com dinheiro e, com a expectativa de que os filhos "não passem pelas mesmas dificuldades que eles passaram", criam jovens dependentes e que não sabem tomar nenhum tipo de decisão sobre nenhum aspecto de suas próprias vidas, o que diria sobre dinheiro então.

Tanto quanto falar sobre educação financeira, precisamos falar também sobre a tomada de decisões. Para tomar decisões é necessário que a pessoa sinta-se segura e consciente de seus próprios atos, que tenha autoestima para não se deixar influenciar por opiniões alheias que vão contra seus próprios desejos e seu "feeling". Portanto, para tomar decisões precisamos educar os jovens para tomar conta de sua própria vida financeira, aprendendo a ser responsável por ganhar seu próprio dinheiro e como geri-lo da melhor forma possível, para ser capaz de realizar seus desejos de consumo e sustento durante toda a vida.

E como é possível tomar decisões acertadas? Para tomar as melhores decisões, nada melhor do que a prática. É preciso incentivar os jovens a sair de casa cedo, a começar a trabalhar e fazer poupança o quanto mais cedo possível. E com erros e acertos eles vão acabar aprendendo o que é melhor para eles mesmos.

A família tem como objetivo principal ensinar os valores que irão formar sua base intelectual e mental, o que irá orientar para qual é o melhor caminho de como tomar decisões acertadas de acordo com esses valores. Também é necessário que os jovens tenham reconhecimento de que estão no caminho certo, para que desenvolvam a autoestima para a tomada de decisões e assim consigam suprir seus próprios desejos e necessidades.

Portanto, para tomar boas decisões é preciso aprender a praticar desde cedo, e é necessário aprender a fazê-lo visando a maximização da satisfação dos desejos individuais. Só assim a pessoa será responsável e feliz com as próprias escolhas de vida e financeiras.

Lavínia Martins é gestora de patrimônio familiar e possui o Certified Financial Planner (CFP)
Voltar

Procurar no site

© 2008 Todos os direitos reservados.