Dez especialistas dão dicas de investimento no 2º semestre

04-09-2009 12:12
DENYSE GODOY E FABRICIO VIEIRA - Folha de S. Paulo
 

Com juro em queda e Bolsa com expressiva valorização, investidor deve ponderar aplicações

O INVESTIDOR brasileiro viveu um cenário de extremos no primeiro semestre deste ano. Enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo conquistou a expressiva valorização de 37% entre janeiro e junho, as taxas de juros sofreram agressiva redução no país. Mas é difícil dizer o que acontecerá no mercado financeiro nos próximos seis meses. Existe a expectativa de que a taxa básica Selic, referência para os juros praticados no mercado, continue caindo -o que afeta os fundos-, mas qual seria o seu piso? A Bolsa representa uma incógnita ainda maior. Para ajudar o investidor a se planejar nesse cenário de tantas incertezas, a Folha ouviu um grupo de dez especialistas em finanças sobre as melhores alternativas de investimento para este segundo semestre.

AÇÃO A LONGO PRAZO

Ricardo Amorim

O presidente da Ricam Consultoria se diz otimista com a Bolsa no longo prazo. "Creio que a Bovespa pode chegar em 2015 aos 210 mil pontos. Também acho que ações podem ser uma boa alternativa de aplicação no segundo semestre, apresentando uma alta considerável. Mas, em algum momento, provavelmente logo, deve haver piora da economia americana, e aí os mercados em todo o mundo passarão por ajuste."
Por isso, explica, a Bolsa é um investimento mais indicado para quem está pensando no longo prazo e tem sangue frio para suportar as oscilações. "O investimento precisa sempre ser coerente com a capacidade de correr riscos de cada um."

OPÇÃO POUPANÇA

Mauro Halfeld

Para o consultor e professor da Universidade Federal do Paraná, a poupança deve ser encarada como opção para quem tem até R$ 50 mil para aplicar. "Ela vai se tornando cada vez mais uma alternativa, pois não estamos vendo movimento de redução das taxas de administração cobradas pelos fundos."
A taxa se tornou um tema espinhoso em decorrência do recuo dos juros. Os fundos que cobram taxas mais altas, acima de 1,5%, acabam por perder em rentabilidade para a poupança. "No longo prazo, o Tesouro Direto também se mostra muito interessante." Já para quem dispõe de montantes maiores para investir, ele aconselha pensar também em imóveis.

BOLSA OSCILANTE

Márcia Dessen

A consultora de finanças pessoais da Bankrisk avalia que os juros devem se estabilizar após as quedas no primeiro semestre. No caso da Bolsa, prevê um cenário de muita oscilação e risco nos próximos meses. "No atual cenário, a poupança ficou mais interessante. Deixou de ser o patinho feio do mercado." Para quem prefere continuar aplicando em um fundo DI, é "fundamental começar a pesquisar para encontrar taxas de administração que permitam ter um retorno líquido maior que o da poupança".

OPERAÇÃO RESGATE

Erasmo Vieira

"A primeira questão que o investidor precisa analisar quando vai montar a sua carteira de investimentos ou mudar de estratégia diz respeito aos objetivos que tem para aquelas economias e, por conseguinte, aos prazos nos quais precisará resgatar o dinheiro", afirma o educador financeiro e diretor da consultoria Planilhar. Para quem vai usar os recursos em um intervalo de dois anos, ele recomenda aplicações mais conservadoras, como a poupança. "Se o montante for superior, o investidor deve buscar fundos de investimento que cobrem taxas de administração menores."

MAIS OUSADIA

Sandra Blanco

Está na hora de o pequeno investidor brasileiro se acostumar a correr riscos. Essa é a opinião da consultora de investimentos e professora. "Aquele momento em que era possível ganhar de 15% a 20% ao ano em uma aplicação conservadora ficou para trás. Com a estabilização da economia e os juros baixando, quem quiser valorizar o patrimônio vai precisar buscar aplicações mais ousadas."
Informação é essencial para entender a nova fase. "Ninguém tem desculpa -há muitos livros bons e existem até cursos gratuitos sobre o mercado acionário. Mesmo assim, quem não conhece a Bolsa deve procurar orientação especializada antes de aplicar."

CDB E PREFIXADOS

Ricardo Fontes

"As Bolsas têm mostrado pouca força para retomar a trajetória de alta, e assim deve ser até que haja sinais mais concretos de uma recuperação da economia mundial. Por enquanto, os indicadores ainda são muito conflitantes: ao saírem sinais de recuperação, todo mundo se anima; logo depois, números ruins funcionam como um banho de água fria", diz o consultor financeiro e professor do Insper (ex-Ibmec-SP).
Em tempos de incerteza, aplicações prefixadas e CDBs são uma boa opção, afirma. Para ele, quando ficar mais claro o ritmo da retomada global, daqui a alguns meses, pode-se pensar em mudar para investimentos menos rígidos.

OLHO NAS TAXAS

Fábio Colombo

"Apesar de o BC ter reduzido fortemente a Selic, os juros praticados no Brasil ainda estão entre os mais elevados do mundo", afirma o administrador de investimentos Fábio Colombo. Com juros menos exuberantes, o investidor tem de estar mais atento à taxa de administração cobrada no fundo, diz. "Com taxa acima de 1% ou 1,5%, é melhor optar pela poupança." No caso do Tesouro Direto, ele avalia que os títulos que pagam taxa de juros somada à variação de um índice de inflação podem ser uma boa alternativa.

CAUTELA ATÉ AGOSTO

Mauro Calil

Esperar a divulgação dos balanços das empresas para depois avaliar alternativas na Bolsa é o conselho do educador financeiro. "Dessa forma, até pelo menos agosto é melhor ter cautela com o mercado acionário. Quando os balanços saírem, teremos uma ideia mais clara de como as companhias estão se virando na crise", afirma. No caso dos fundos que rendem juros, Calil reforça a recomendação de outros especialistas de ficar atento à taxa de administração. "Uma hora as taxas vão ter de cair", avalia.

TÍTULOS PÚBLICOS

Fabio Guelfi Pereira

"Quando se fala em títulos públicos, o mais importante é a pessoa física casar as características do papel com as suas próprias metas", destaca o analista do Tesouro Nacional. "Não adianta ficar pulando de galho em galho a cada dois meses para perseguir uma rentabilidade maior. O pequeno investidor não possui conhecimento técnico para ficar mudando. Além disso, há que se considerar todos os custos associados. Melhor é traçar um plano e segui-lo até o fim." Isso significa, por exemplo, comprar um título com vencimento em 2012, se existe a intenção de resgatar os montantes nessa época. Simplesmente comparar rendimentos não funciona, afirma.

JUROS SEGUROS

Luiz Antonio Vaz

Para o analista da KNA Consultores, entrar na Bolsa neste momento "está muito perigoso". "Eu esperaria até setembro para poder avaliar melhor a economia e voltar a comprar ações." As aplicações que pagam juros são a alternativa mais segura neste momento, segundo ele. "O investidor brasileiro ainda não se acostumou com a taxa de juros de um dígito. Mas, como será difícil a Bolsa repetir no segundo semestre o desempenho do primeiro, é interessante deixar uma boa parcela das economias em um porto mais seguro. À medida que os balanços forem saindo, poderemos avaliar melhor as companhias e as ações com preços mais atraentes."

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