Crise leva titãs da informática a abraçar software online

20-07-2009 20:09
Ben Worthen e Justin Scheck, The Wall Street Journal - Valor Econômico
 

A recessão forçou pesos pesados da tecnologia como Oracle Corp., Hewlett-Packard Co. e SAP AG a investir num negócio com baixa margem de lucro a que essas empresas sempre resistiram: vender software baseado na internet.

Com as empresas à procura de meios de cortar despesas, muitas se voltaram para programas baseados na web que ajudam a economizar porque evitam os custos de comprar ou manter sistemas de informática caros.

Em vez disso, o programa roda em servidores da própria fabricante do software e pode ser acessado pela internet, baixando o custo total em alguns casos para um quarto da despesa habitual, dizem analistas.

Gigantes da tecnologia como a Oracle se esquivaram de oferecer esse serviço porque ele é menos lucrativo do que o software tradicional e suas vendas poderiam canibalizar as de seus próprios produtos. A proposta também obriga os fabricantes do software a arcar com despesas como hardware que antes ficavam por conta dos clientes.

Até setembro o diretor-presidente da Oracle, Larry Ellison, dizia que as empresas de software online "não descobriram como ganhar dinheiro".

Mas agora a Oracle está desenvolvendo mais de dez programas online, como alguns que acompanham funcionários e candidatos a emprego, dizem pessoas informadas sobre a questão. A Oracle não quis comentar.

Enquanto isso, a SAP informou que espera lançar ainda este ano uma ferramenta online para compras e dois outros aplicativos online ano que vem. E a HP anunciou no início do mês que vai desenvolver versões online de quase todos os seus programas para empresas.

A Microsoft Corp. e a International Business Machines Corp. também resolveram investir em software online no último ano.

As mudanças no mercado são impulsionadas pelos clientes, que estão procurando as melhores maneiras de cortar as despesas com informática em meio à crise. "O custo total de manutenção é menor" com o software online, diz Joanne Cummins, diretora de informática da Standard Register Co., uma gráfica de Dayton, no Estado americano de Ohio.

Cummins pretende substituir este ano seu software da Oracle por um produto online. Ela diz que não quer ter a obrigação de comprar e manter o hardware necessário para rodar o software tradicional e quer evitar a despesa de atualizar o programa depois de alguns anos.

Mas entrar de cabeça no software online é arriscado para as grandes empresas de tecnologia. "Minha aposta é que as grandes empresas do setor não vão conseguir cruzar a ponte", diz Bruce Cleveland, capitalista de risco da InterWest Partners que já administrou a divisão de software online da Siebel Systems. "Eles não vão conseguir transformar seus modelos de negócio."

A maioria dos fabricantes de software tradicional está acostumada a contabilizar imediatamente a receita com a venda de seus produtos. O preço de tabela da Oracle para seu tradicional software de administração de clientes é US$ 3.750 iniciais para cada usuário na empresa, mais US$ 825 por usuário anualmente em custos de manutenção, embora a maioria das empresas ganhe um desconto nessa despesa.

Com o software online a receita é contabilizada ao longo do período do contrato, que geralmente dura várias anos. Um dos poucos produtos online atualmente oferecidos pela Oracle custa apenas US$ 70 mensalmente por usuário. Os contratos costumam não dar lucro no início por causa do custo inicial de instalar um novo cliente, mas podem se tornar rentáveis se o cliente usufruir do sistema durante vários anos.

As grandes fabricantes de software estão apenas experimentando com os programas online, dizem analistas. Mas quanto mais programas online são oferecidos pelas gigantes, maior a probabilidade de que a margem de lucro delas será prejudicada.

A Oracle tem atualmente margem líquida de 24,6%. A empresa de software online Salesforce.com Inc., por outro lado, tem margem líquida de apenas 4,4%, embora gaste um porcentual maior da receita em vendas e marketing.

Passar de um modelo de negócios baseado em software tradicional para um modelo online pode ser "muito turbulento", diz o diretor de software da HP, Tom Hogan. "Os acionistas não gostam, e surge um conflito real entre a estratégia de negócios e o dever fiduciário."

Calcula-se que o software online corresponderá a apenas US$ 9,5 bilhões dos US$ 284 bilhões que as empresas devem gastar com programas este ano, segundo a firma de pesquisa de mercado IDC. Mas as vendas de software online estão subindo mais de 40% por ano ante os 3,4% do segmento de software em geral.

Algumas grandes firmas de tecnologia já tentaram entrar no mercado de software online - e foi difícil. A SAP lançou em 2007 com muita festa uma versão online de seu programa de administração. Mas para resguardar as vendas de seu software tradicional ela anunciou que iria vender a versão online só para pequenas e médias empresas que não contassem com recursos suficientes para comprar a versão tradicional. Ano passado a SAP cortou recursos para a divisão de software online depois que executivos alegaram que não conseguiam ganhar dinheiro com ela.

A SAP agora planeja vender software online que complementa o software tradicional e não concorre com ele, e vai contar com um departamento de vendas separado para comercializar os novos produtos, diz John Wookey, diretor-superintedente da SAP.

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