Cresce distância entre ricos e o resto no setor de tecnologia

18-03-2010 16:16
Ben Worthen, The Wall Street Journal - Valor Econômico
 
Um punhado de empresas com o caixa gordo está consolidando poder na indústria de tecnologia, usando sua riqueza para se expandir em novos negócios e tornando mais difícil para concorrentes pequenas e médias furar o bloqueio.

O motivo de o setor evoluir dessa maneira está enraizado nos balanços. Nos últimos dois anos, Apple Inc., Oracle Corp., Google Inc., Microsoft Corp. e seis outras grandes empresas de tecnologia geraram US$ 68,5 bilhões em caixa novo, ante somente US$ 13,5 bilhões das outras 65 empresas de tecnologia que fazem parte do índice Standard & Poor’s 500 juntas.

As poucas empresas ricas estão bancando investimentos num momento em que muitas outras se recolheram. Nos últimos 12 meses, a Oracle pagou US$ 7,4 bilhões para entrar na área de hardware com a aquisição da Sun Microsystems e a Dell Inc. comprou a Perot Systems para acrescentar serviços de tecnologia da informação. A Cisco Systems Inc. gastou mais de US$ 7 bilhões para comprar seis empresas nos últimos 12 meses.

Frank Calderoni, diretor financeiro da Cisco, reconhece que o balanço da empresa "é uma ótima vantagem competitiva para nós".

O Google, por sua vez, usou seu caixa para custear incursões nas áreas de sistemas operacionais e celular, enquanto também fazia pelo menos oito aquisições desde outubro. A Microsoft financiou sua ambição deficitária de enfrentar o Google na área de buscas com seu caixa. E a Apple usou suas reservas para desenvolver o iPad e mirar no Google recentemente com a aquisição de uma empresa de publicidade em aparelhos móveis.

Graças a uma enorme acumulação de caixa, essas empresas conseguem arcar com riscos que empresas menores não conseguem, num momento em que a economia americana ainda permanece frágil. O resultado é um cenário tecnológico bifurcado, diz Erik Brynjolfsson, um professor da Escola Sloan de Administração, do Instituto de Technologia de Massachusetts.

"O caixa é quem manda, agora numa amplitude ainda maior que no passado por causa do aperto no crédito", diz ele. "Uma empresa com muito caixa está numa posição desproporcionalmente mais forte agora do que estaria em tempos normais."

As repercussões da discrepância de caixa estão sendo sentidas por toda a indústria da tecnologia.

Algumas empresas de porte médio estão desistindo de concorrer com rivais maiores. "Eu não vou brigar", sendo uma empresa da faixa média, diz Enrique Salem, diretor-presidente da fabricante de software de segurança Symantec Corp., que tem receita anual de US$ 6,1 bilhões e reservas de caixa de US$ 2,6 bilhões. "É uma ideia perdedora para mim tentar alcançar a Oracle", que tinha US$ 20,8 bilhões em caixa no fim de novembro.

Outras empresas estão se preparando para fazer suas próprias aquisições de modo a não ser deixadas para trás. Por exemplo, a fabricante de software online Salesforce.com Inc. quase dobrou suas reservas de caixa em janeiro, assumindo US$ 575 milhões em dívidas que segundo ela serão usadas em parte para expansão e aquisições futuras. Outras empresas de tecnologia de médio porte, como a Ciena Corp., abocanharam recentemente rivais menores para ganhar corpo.

Em tecnologia, as empresas tendem a ter uma alta margem de lucro uma vez que consigam superar a fase inicial, e consequentemente reservam mais caixa do que as empresas de outros setores. A concentração de caixa que está acontecendo em tecnologia não acontece em outros setores.

Do fim de 2007 ao fim de 2009, as dez empresas de tecnologia mais ricas aumentaram seus níveis de caixa em 48%, para US$ 210 bilhões. As outras 65 empresas de tecnologia presentes no S&P 500 aumentaram seu caixa em somente 13% no mesmo período, para US$ 118 bilhões. Consequência: a diferença entre esses dois grupos ficou em US$ 93 bilhões, um recorde, segundo análise do Wall Street Journal com dados fornecidos pela Capital IQ. A diferença seria ainda maior se uma mudança contábil não fizesse a Apple designar cerca de US$ 10 bilhões como investimentos de longo prazo.

O desequilíbrio está mudando o comportamento das empresas. Tanto a Cisco, que tem mais de US$ 40 bilhões em caixa, quanto a rival menor Juniper Networks Inc. iniciaram conversas para uma parceria em junho passado com a fabricante de tecnologia sem fio Starent Networks Corp. Em agosto, a Cisco informou à Starent que queria comprar a empresa de uma vez.

Enquanto alguns anos atrás as duas empresas certamente teriam sido arrastadas a um leilão de ofertas, desta vez o conselho da Starent "concluiu que o risco de a Cisco encerrar as conversas com a Starent superava os prováveis benefícios" de se solicitar uma oferta da Juniper, de acordo com um informe às autoridades regulamentares. Em outubro, a Starent aceitou a oferta de US$ 2,9 bilhões da Cisco.

O diretor-presidente da Juniper, Kevin Johnson, diz que estar em desvantagem em aquisições é normal. "Para empresas de médio porte, é sempre difícil avançar em fusões e aquisições porque empresas maiores vão sempre fazer ofertas melhores", diz ele, acrescentando que planeja fazer a Juniper crescer organicamente.

Algumas empresas menores de tecnologia que tentaram fazer grandes aquisições não tiveram sucesso. A empresa de armazenamento de dados NetApp Inc. anunciou em maio que compraria a fabricante de software Data Domain por US$ 1,5 bilhão. Doze dias depois, a concorrente maior EMC Corp. ofereceu US$ 1,8 bilhão. Após uma guerra de ofertas, a EMC, cujo baú de US$ 6,7 bilhões era mais que o dobro do da NetApp, fez uma oferta de US$ 2,2 bilhões que a NetApp não pôde bater.

"Não dá para vencer guerras de ofertas com quem tem os bolsos mais cheios", diz o diretor- presidente da NetApp, Tom Georgens. Ele diz que a NetApp vai buscar adquirir empresas novatas e empresas que as rivais não consideram tão valiosas, bem como usar seu caixa para ajudar a enfrentar os tempos difíceis.
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