Como reprogramar o cérebro de um líder

04-09-2009 12:14
Debbi Gardiner McCullough, do Financial Times - Valor Econômico
 
Neurociência: Novos estudos mostram que é possível criar cientificamente carisma, visão e autenticidade.

O que torna alguém um bom líder? Quais atributos garantem a um presidente de empresa a capacidade de ser sensível, compassivo e, ainda assim, comandar sua companhia em tempos difíceis? E se essas habilidades pudessem ser incutidas nos estudantes de MBA, administradores corporativos ou militares? Será que isso é algo que vale a pena perseguir? Durante muito tempo, Pierre Balthazard, professor-associado da Carey School of Business da Arizona State University, ponderou sobre essas questões. Agora, depois de uma década de trabalho, sua pesquisa não só decolou como ele encontrou um público cativo.

A ciência moderna vem investigando as fontes de eletricidade do cérebro e como elas são usadas. Professores de psicologia vêm ampliando essas pesquisas. Mas o professor Balthazard juntou o mapeamento do cérebro com o desenvolvimento da liderança.

As pesquisas sobre liderança vêm se concentrando em descobrir quais habilidades inspiram indivíduos e grupos a funcionarem de maneira mais eficiente. Recentemente, pesquisadores estão explorando questões mais complexas. Entre elas, o desenvolvimento de características como autenticidade, carisma e visão inspiradora em líderes menos experientes e talentosos. As escolas de negócios hoje estão repensando suas posturas e tópicos como liderança, ética e responsabilidade estão sendo inseridos nos currículos ao lado de matérias tradicionais das áreas de economia e finanças.

"A neurociência oferece um poderoso miscroscópio, ainda que diferente, para a dimensão humana dos negócios", afirma o professor Balthazard. "Ela nos ajuda a entender o que faz os humanos agirem da maneira como agem."

Seu trabalho sugere que as qualidades comportamentais e emocionais da liderança podem ser encontradas na atividade neurológica e identificadas em regiões do cérebro. Ele está trabalhando na ligação desta atividade com as qualidades que beneficiam mais aqueles que estão na cúpula de uma companhia. Com isso, quer criar técnicas de treinamento que desenvolvam as habilidades dos líderes mais eficazes.

O professor Balthazard ficou interessado no trabalho do neurocientista Jeffrey Fannin, um psicólogo e diretor-executivo do Centro de Aprimoramento Cognitivo, uma clínica perto do campus da Arizona State University. Fannin mapeou o cérebro de pacientes e descobriu que padrões característicos de cada um existiam em comportamentos disfuncionais. Através de exercícios e mapeamentos, ele conseguiu ajudar os pacientes a treinarem seus cérebros para que mudassem seus comportamentos.

Balthazar e Fannin recolheram dados de 55 líderes empresariais e comunitários com várias habilidades de liderança. Eles incluíram executivos, banqueiros, advogados, médicos, um ex-reitor de faculdade de administração aposentado, um diplomata e um alpinista. O professor Balthazard mediu a atividade elétrica dos cérebros dos voluntários e demonstrou o que acredita ser uma determinação 100% exata daqueles que são líderes fortes. Ele também descobriu que comandantes com um alto "capital psicológico" (esperança, otimismo, capacidade de recuperação) apresentam uma atividade cerebral diferente daqueles que possuem um capital psicológico baixo.

Ele diz que agora o papel com que as diferentes áreas do cérebro contribuem para a liderança é melhor entendido, o treinamento de "neuro-feedback" pode desenvolver o comportamento que indivíduos querem otimizar. Usando imagens e sons em um computador, eles são ensinados a controlar suas ondas cerebrais, administrando conscientemente os sistemas de neurônios. Após várias sessões, um novo mapa cerebral é concluído para avaliar as mudanças.

De acordo com o professor Balthazard, esses dados podem ajudar as organizações a avaliarem características pessoais como a visão, a mentalidade globalizada, o carisma e a flexibilidade. Também podem identificar se problemas clínicos como a depressão ou a ansiedade interferem no desempenho.

O professor Balthazard já está encontrando aplicações empresariais para a metodologia. Com pesquisadores da Academia Militar de West Point, nos EUA, ele está desenvolvendo um modelo e exercícios de liderança que melhoram e desenvolvem o perfil cerebral de um líder.

A Thunderbird School of Global Management do Arizona também pretende usar a pesquisa para ajudar a determinar o que constitui o padrão de neurociência de uma mentalidade globalizada. Mansour Javidan, diretor de pesquisas e professor de administração global da Thunderbird, desenvolveu uma ferramenta psicométrica que testa a maneira como os administradores pensam e resolvem problemas em ambientes estranhos. Os alunos concluem a pesquisa antes de começarem o programa e depois da formatura. O professor Javidan vê um avanço de pelo menos um ponto em uma escala de cinco pontos, no capital intelectual e social da maioria dos diplomados.

Outras faculdades estão fazendo o mesmo. A McDonough School of Business da Georgetown University pretende usar a pesquisa, assim como a Smith Business School da Universidade de Maryland.

Mas o mapeamento do cérebro tem seus detratores. Alguns veem nele o fantasma de um mundo orwelliano pós-1984. Conseguir recursos também não está sendo fácil. O professor Balthazard estima que os custos diretos de desenvolvimento da neurociência da liderança podem alcançar US$ 500 mil.

Mas ele acredita nos benefícios desse trabalho. "Treinar o cérebro para novos níveis de liderança pode representar um desenvolvimento muito positivo da condição humana", afirma Balthazard.
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